quarta-feira, 23 de julho de 2008

mãe

A tarde era reflectida pelos vidros das janelas: os olhos da minha mãe reflectiam a imagem esbatida dos vidros das janelas. Ninguém pode saber o que pensava, mas havia anos inteiros dentro dela, risos irrepetíveis e silêncios irrepetíveis. Nessas tardes, a minha mãe acreditava que, um único instante, tudo pode transformar-se em nada. Acreditava no silêncio.

Nesse instante, pareceu-me que a sua voz tinha imagens de outro tempo. Ela a escolher palavras e silêncios para consolar-me. E eu a conseguir mesmo encontrar conforto nessa voz, a fechar os olhos para ouvi-la. Eu tentava viver. Ao deitar-me, ao esperar por adormecer, a voz dela era o mundo calmo onde me esquecia de tudo o resto.

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